Aterro sanitário de Maceió é mal usado

Quatro meses antes da sanção presidencial da lei que trata da Política Nacional de Resíduos Sólidos, o município de Maceió decretava o “enterro” de seu pior cartão-postal, o lixão de Cruz das Almas, e inaugurava seu aterro sanitário. Orçado em R$ 390 milhões, o projeto poderia já ser exemplo nacional de ação ambiental caso a população maceioense tivesse incorporado, desde a tenra idade, o simples hábito de separar lixo seco do molhado. Infelizmente, esbarra na falta de hábito da população de selecionar os resíduos

Em funcionamento na região do Benedito Bentes desde abril, o aterro ainda recebe todo tipo de coisa imprestável, o que não condiz com a ideia inicial de tratamento prévio do que é destinado ao novo espaço. “O aterro recebe qualquer tipo de resíduo porque a coleta seletiva ainda não é a ideal em nossa cidade”, admite o ambientalista Alder Flores, assessor técnico da Superintendência de Limpeza Urbana de Maceió (Slum).

Catadores tiram o sustento de lixões

A realidade é cruel e vergonhosa: dos 102 municípios de Alagoas, 101 mantêm lixões, que são depósitos desorganizados de tudo o que é descartado pela sociedade. Os catadores vasculham a montanha de resíduos à cata do que pode ser absorvido pelos intermediários de indústrias que apostam na reciclagem.
A lei federal da Política Nacional dos Resíduos Sólidos, sacramentada no início do mês pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, determina inclusive o fim dos lixões nos quatro cantos do País.

Enquanto isso não sai do papel, José Francisco da Silva, 27, e sua irmã, Maria José da Silva, 41, “chafurdam” no lixão de União dos Palmares, camuflados pelo canavial à margem da rodovia federal BR-104.

Consórcio para gestão de resíduos é alternativa

A proposta do Consórcio Intermunicipal para Gestão de Resíduos Sólidos (Sigres) de implantação de células de um aterro situado em Olho d’Água das Flores, para acabar com lixões em outras nove cidades, melhorando a qualidade de vida de 170 mil alagoanos, é maravilhosa, mas continua sendo uma ilusão. O projeto nunca saiu da licença prévia concedida pelos técnicos do Instituto do Meio Ambiente (IMA).

Esse tipo de documentação, explica Gustavo Carvalho, diretor-técnico do instituto, dá direito à escolha da área, o que já aconteceu, mas não à construção do projeto. “Em um segundo momento, seriam necessários estudos de impacto ambiental para consolidação do aterro, cuja viabilidade também depende de recursos do Ministério do Meio Ambiente”, diz.

Condomínios ajudam cooperativa de reciclagem

Quando perdeu o emprego de limpadora na antiga Companhia Beneficiadora de Lixo (Cobel), empresa extinta, Maria José Santos, a “Meuri”, não pensou duas vezes: reuniu um grupo de amigos e fundou, seis anos atrás, a Cooperativa de Reciclagem de Alagoas (Cooprel). O empreendimento funciona com apoio público num galpão alugado à margem da Via Expressa e é sustentáculo de vinte famílias de catadores que coletam material reciclável em 13 bairros.

No princípio, poucos acreditaram na viabilidade da ideia, que dependeu, e ainda depende, da parceria política para garantir rendimento médio de R$ 280 a cada um dos cooperados. O apurado, reconhece Maria José, é diminuto, mas poderia nem existir. “Se não tivéssemos acreditado na ideia, nem esse pequeno salário teríamos para ser feliz ao fim do mês”, comenta a líder dos catadores que dominam a parte alta da capital alagoana.

Supermercados possuem local de coleta

Na tentativa de fazer valer a “lógica reverda” (venda do produto e recepção de seu recipiente vazio), alguns supermercados de Maceió apostam em uma ideia que não lhes rende lucro, mas contribui para fixação da imagem de empresa preocupada com o meio ambiente. Disponibilizam recipientes para coleta de material reciclável, posteriormente repassado às cooperativas de catadores da cidade.

Nas duas unidades do Supermercado Extra, nos bairros do Farol e Mangabeiras, há centrais de reciclagem para recepção de material depositado pelo cliente em compras ou ainda pelos que residem nas imediações do negócio. “Muita gente do Horto (condomínio de classe alta) vem à loja só para deixar garrafas de plástico ou vidro. Juntamos tudo em sacolões, que são coletados por cooperativas com o apoio da prefeitura”, explica o gerente Evandro Breganholi.

Fonte: Gazeta de Alagoas