Um gigantesco iceberg, do tamanho de Luxemburgo, se desprendeu da Antártida há duas semanas e seu deslocamento pode alterar as correntes oceânicas em todo o mundo, adverte um estudo publicado nesta sexta-feira (26).
Apesar do impacto só se manifestar em décadas, uma redução da velocidade de produção de água fria e densa poderia provocar invernos mais rigorosos no Atlântico norte, assinalaram os pesquisadores.
O bloco de gelo, de 2.550 km quadrados, se desprendeu em 12 ou 13 de fevereiro da geleira Mertz, um glaciar de 160 quilômetros de comprimento que emerge da Antártida oriental e avança sobre o Oceano Antártico ao sul de Melbourne, informaram os cientistas.
Com uma espessura média de 400 metros, o iceberg pode perturbar a biodiversidade excepcionalmente rica da região, que inclui uma importante colônia de pinguins imperadores na zona de Dumont d’Urville, onde está a estação científica francesa na Antártida.
O iceberg, de 78 km de comprimento e quase 40 km de largura, com peso estimado de mais de 1 bilhão de toneladas, se desprendeu da geleira Mertz ao receber o impacto de outro iceberg, conhecido como B9B, a deriva desde 1987.
Tanto os ciclos naturais como a mudança climática provocada pelo homem contribuem para o colapso das geleiras na Antártida.
A maré e as correntes oceânicas batem constantemente nas áreas expostas da geleira, enquanto verões mais longos e temperaturas mais altas também contribuem para o desprendimento dos icebergs.
“Obviamente que com o aquecimento das águas as bordas das geleiras se tornam mais frágeis”, disse Legrosy, que trabalha no Laboratório de Geofísica e Pesquisa Oceanográfica, na cidade francesa de Toulouse.
A geleira Metz, onde foram instalados sistemas GPS e outros instrumentos de medição, deve proporcionar informação valiosa sobre o desprendimento de icebergs.
“Pela primeira vez temos um registro detalhado do ciclo completo de um desprendimento de iceberg: antes, durante e depois”, assinalou o pesquisador.
“Estamos usando a geleira como um laboratório para estudar os processos que poderão ser alterados pela mudança climática, incluindo o desprendimento de icebergs, a temperatura dos oceanos e as flutuações do nível do mar”.
Desde que se separou da geleira Mertz – do mesmo modo que o B9B – o novo iceberg está flutuando em uma área próxima conhecida como polinia.
Distribuídas por todo o Oceano Antártico, as polinias são zonas que produzem água densa, gelada e rica em sal, que segue para o fundo do mar e dirige as correntes oceânicas como um canal.
Se icebergs como este se deslocam para leste e encalham, ou flutuam para o norte até climas mais quentes, não há qualquer impacto sobre as correntes oceânicas, mas se permanecem nesta área, algo provável, podem bloquear a produção de água densa e recobrir a polinia”, explicou Legresy.
A polinia da geleira Mertz é especialmente importante, e representa cerca de 20% da “água do fundo” dos oceanos.
A expectativa de vida de um iceberg depende de seu deslocamento, mas podem durar décadas.
Fonte: G1